Um dos resultados concretos de uma eventual conclusão bem sucedida das negociações para um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul seria maior acesso para os europeus ao etanol de cana-de-açúcar brasileiro, o que ajudaria os países membros da UE a atingir suas metas ambientais e melhorar a segurança energética. De acordo com a assessora sênior da presidência da União da Indústria de Cana de Açúcar (UNICA) para Assuntos Internacionais, Géraldine Kutas, com acesso preferencial ao mercado europeu, o etanol de cana poderia complementar a produção europeia de biocombustíveis e não substituí-la.
A executiva da UNICA fez a avaliação durante apresentação no seminário “UE-Brasil: perspectivas para a agricultura no contexto das negociações para um acordo comercial entre UE e Mercosul,” organizado em 21 de junho no Parlamento Europeu em Bruxelas, Bélgica, pelo escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em Bruxelas, em parceria com a Missão do Brasil para a UE e o Ministério de Agricultura do Brasil.
“No caso do etanol, o livre comércio irá garantir mais segurança energética para a Europa e promover a competição entre produtores, diminuindo custos e ajudando os biocombustíveis a se tornarem uma real alternativa aos combustíveis fósseis. Também contribuirá para promover a inovação, para que os bicombustíveis possam cumprir com a promessa de fornecer uma alternativa em larga escala e recursos para a indústria química, com as maiores reduções nas emissões de gases causadores do efeito estufa,” destacou Kutas.
O evento, organizado no contexto da próxima rodada de negociações entre a UE e o Mercosul para um acordo comercial bilateral, marcada para o período de 4 a 8 de julho em Bruxelas, teve como objetivo expandir o conhecimento de autoridades europeias sobre o agronegócio no Brasil. Além da apresentação sobre a indústria da cana-de-açúcar brasileira, representantes de outros setores importantes no Brasil, incluindo óleo vegetal, carne, frango e suco de laranja, apresentaram melhores práticas ambientais já em vigor no país, além de detalhar obstáculos que impedem o fluxo comercial entre as duas regiões.
Entre os participantes do seminário, houve consenso de que um acordo de livre comércio entre a UE o Mercosul não deve ser visto como uma ameaça para os produtores europeus e poderia trazer benefícios sociais e econômicos para ambas as regiões. Todos os palestrantes destacaram que as atuais restrições para acesso ao mercado europeu, como altas tarifas de importação, continuam limitando a entrada de produtos brasileiros.
Com relação a alegações de padrões ambientais ineficientes, Kutas destacou que as práticas ambientais da indústria de cana-de-açúcar do Brasil são referência mundial e que a indústria está engajada para não somente demonstrar o cumprimento com os requisitos de sustentabilidade da UE, mas ir além dos critérios estabelecidos. “Todos os nossos membros cumprem o Zoneamento Agroecológico estabelecido pelo governo brasileiro, que proíbe a expansão da cana em qualquer área de vegetação nativa e em áreas ricas em biodiversidade, incluindo a Amazônia, o Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai,” ela acrescentou.
O evento incluiu apresentações de Daniel Furlan Amaral, representante da ABIOVE – Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal; Fernando Sampaio, Diretor de Sustentabilidade e Coordenador da ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne; Luiz Murphy, Representante da IMTA – Associação Internacional de Comercialização de Carnes; Stefan Vogel, Chefe da Sessão de Mercado e Políticas Agrícolas da COCERAL – Associação Européia de Cereais; Fernando Capra, Representante na UE da Citrus-BR, Associação Brasileira de Exportadores de Sucos Citrícos; Adriano Nogueira Zerbini, Gerente de Relações de Mercado da UBABEF – Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos; e Wolfgang Christ, Presidente da EPEGA, Associação Européia de Avicultura.