O recente acordo firmado entre a Petrobras e a empresa dinamarquesa Novozymes reforça uma tendência que se desenha no setor sucroenergético: o de parcerias estratégicas para o desenvolvimento do etanol de segunda geração. A avaliação é do consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc.
“Esses acordos abrem novas possibilidades de desenvolvimento tecnológico, e ter a Petrobras neste processo é estimulante pelo fato dela já desenvolver um projeto de etanol celulósico,” explica Szwarc.
A Novozymes pesquisa o etanol celulósico desde 2007 em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), entidade mantida por empresas do setor sucroenergético e voltada à pesquisa de variações genéticas da cana no Brasil. Mais recentemente, a Novozymes também selou um acordo com a Dedini, empresa dedicada à produção de usinas e equipamentos para o setor sucroenergético, cuja clientela está espalhada por 40 países.
A parceria Petrobras-Novozymes selada no início de outubro terá validade de dois anos, explica João Norberto Noschang Neto, gerente de Gestão Tecnológica da Petrobras Biocombustível. “Trata-se de um projeto de cooperação tecnológica, cujo objetivo é reduzir custos e melhorar a eficiência no processo de fabricação do etanol celulósico a partir da otimização de enzimas,” acrescenta.
As enzimas são responsáveis por quebrar os resíduos do bagaço da cana, palha de milho, palha de trigo ou lascas de madeira que são fermentados para produção do etanol. A Petrobras tem realizado pesquisas de conversão de bagaço de cana-de-açúcar em etanol por meio de processos bioquímicos desde 2006.
Diferencial de mercado
O potencial de comercialização de um combustível renovável no Brasil e a enorme quantidade de bagaço de cana disponível no mercado nacional são os principais fatores que tem impulsionado o surgimento de projetos voltados ao etanol de segunda geração no País.
Para Alfred Szwarc, o interesse de empresas de biotecnologia neste mercado se deve ao fato do País possuir uma série de vantagens competitivas para produção do etanol de primeira e segunda geração. “A principal delas é que, no curto prazo, com o etanol celulósico o Brasil vai aumentar em 30% sua capacidade produtiva sem a necessidade de expandir suas fronteiras agrícolas,” ressalta Szwarc.
Ele prevê que o aprimoramento tecnológico na produção de etanol deverá dobrar a produtividade no Brasil. “Hoje, utilizando a tecnologia de primeira geração, o País produz em média sete mil litros de etanol por hectare (ha) de cana. Com uma tecnologia consolidada, usando o bagaço e a palha, a produtividade por hectare poderá crescer para até 14 mil litros,” explica.
Rota enzimática
Para reduzir os custos de produção do etanol celulósico, em fevereiro deste ano a Novozymes lançou uma família de enzimas chamada “Cellic CTec2”, considerada a mais competitiva entre as existentes no mercado. Para desenvolver a “Cellic”, a empresa recebeu recursos do Ministério de Energia dos EUA, que destinou US$ 29,3 milhões ao projeto. “Foram dez anos de pesquisas para alcançarmos estes resultados,” ressalta Pedro Luiz Fernandes, presidente da Novozymes na América Latina.
Nos últimos anos, empresas brasileiras e americanas, cujos países são os maiores consumidores e produtores de combustíveis renováveis do mundo, são as que mais investem em pesquisa com etanol de segunda geração. “Hoje os Estados Unidos têm algumas plantas para a produção do etanol celulósico em escala pré-industrial. Brevemente, o Brasil também terá um ou mais empreendimentos deste tipo. Nossas pesquisas estão bem adiantadas e em fase de ajustes finos,” revela Fernandes.
No Brasil, uma pequena unidade de demonstração para produção de etanol de segunda geração já está em funcionamento na cidade de Piracicaba (SP). A planta, cuja capacidade de fabricação diária chega a mil litros de etanol celulósico, é resultado do acordo firmado entre a Novozymes e o CTC. No futuro, a intenção é integrar esta planta a uma usina tradicional em operação no País. “Acredito que este processo deverá ser concluído no final de 2012,” revela Nilson Boeta, diretor superintendente do CTC.
Segundo o vice-presidente de Tecnologia e Desenvolvimento da Dedini, José Luiz Olivério, o acordo com a Novozymes, embora ainda em fase inicial, prevê a implantação e integração de uma unidade de demonstração a uma usina brasileira. “Antes, porém, precisamos elaborar um estudo detalhado de investimento, e quantificar os volumes de bagaço a ser utilizados e os litros de etanol a ser gerados.”