O Brasil já tem etanol certificado de acordo com padrões exigidos pelos europeus, e mesmo assim o volume importado pela Europa é irrisório pois a tarifa de importação é muito elevada. O recado foi dado pela assessora sênior da Presidência da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA) para Assuntos Internacionais, Géraldine Kutas, que participou do evento World Biofuels Markets 2013, realizado entre os dias 12 e 14 de março, na Holanda.
“A certificação é um instrumento importante para demonstrar a sustentabilidade dos produtos e é considerado um diferencial, porém não tem sido suficiente para facilitar o acesso do etanol brasileiro ao mercado da Europa” destacou Kutas. Ela participou do evento como parte de mais uma ação da parceria entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a UNICA.
Durante o painel “Desenvolvendo um quadro político da agricultura sustentável,” Kutas apontou a importância de produzir mais com menos recursos naturais, dando como exemplo as melhores práticas ambientais implementadas na agricultura brasileira. Elas incluem a conservação do solo, uso reduzido de agroquímicos e de água, e a proteção das florestas.
A assessora da presidência da UNICA mostrou que no Brasil existe uma série de instrumentos para a produção da cana-de-açúcar com menor impacto ambiental. Esses instrumentos incluem políticas públicas como o Zoneamento Agroecológico, iniciativas público-privadas como o Protocolo Verde no estado de São Paulo, além de iniciativas privadas, como as certificações, têm contribuído para uma produção mais eficiente.
Kutas defendeu que todas essas iniciativas são úteis, mas nenhuma substitui a outra, pois alcançam diferentes objetivos, sendo as políticas públicas as mais abrangentes e eficazes. Porém, ela não acredita que os critérios de sustentabilidade aplicados hoje aos biocombustíveis na Europa deveriam ser estendidos para a agricultura em geral.
“A certificação das commodities agrícolas, por exemplo, tem um preço, que consequentemente precisa ser repassado ao valor dos alimentos. Entretanto, a maior preocupação do governo europeu é baratear o preço desses produtos. Nesse caso, a sustentabilidade da produção agrícola deve ser promovida, mas a certificação não é o instrumento ideal,” alertou.
Com mediação do ex-diretor executivo da organização não-governamental Amigos da Terra, Tony Juniper, o painel contou também com a presença do chefe de Estratégia e Assuntos Regionais da BP Biocombustíveis, Olivier Macé; do consultor da DONG Energy, Michael Persson; e do economista da divisão de Meio Ambiente da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Marcio Pacini.
Quando o painel analisou o uso limitado dos recursos naturais como uma possível barreira à expansão dos biocombustíveis, Juniper concordou que não é possível generalizar, uma vez que o Brasil mostra que a taxa de desmatamento na Amazônia caiu em 84% desde 2004, período em que houve um aumento significativo da produção de etanol.
Kutas frisou que o ideal de produzir mais com menos está funcionando no País, já que dos anos 70 para cá a produtividade do etanol por área plantada dobrou. Para ela, a tecnologia também tem sido essencial nesse processo:
“Estamos avançando na produção de etanol celulósico, feito a partir do bagaço da cana, que poderá aumentar em 40% a produtividade por área, uma vez que é produzido no mesmo local que o etanol comum e ainda reaproveita outros resíduos da produção.”
Já Olivier Macé finalizou sua apresentação dizendo que “a agricultura e os biocombustíveis não estão em conflito, mas devem trabalhar em conjunto para melhorar os padrões gerais de uso da terra e beneficiar comunidades”.