Uma nova iniciativa no Nordeste do País promete ampliar as possibilidades de uso da vinhaça, um resíduo líquido da produção de etanol, para a geração de energia. No início de abril, em Vitória de Santo Antão, cidade na zona rural próxima a Recife (PE), foi inaugurada a primeira operação industrial de geração de energia elétrica a partir da vinhaça.
O projeto foi concebido em uma parceria entre a Companhia Alcoolquímica Nacional, usina do grupo pernambucano JB, e a empresa baiana Cetrel, controlada pela Braskem (Odebrecht) e especializada em tratamento de resíduos e aproveitamento energético.
“Embora diversas empresas do setor sucroenergético conheçam a tecnologia de biodigestão da vinhaça para a concentração do produto e geração de biogás, os investimentos necessários e as dificuldades operacionais com as tecnologias testadas limitaram o desenvolvimento de projetos desse tipo até hoje. A iniciativa do grupo JB e da Cetrel abre perspectivas para a mudança desse quadro. A comprovação de sua viabilidade técnica e econômica poderá promover outras iniciativas semelhantes e representar mais uma oportunidade para o setor,” afirma Alfred Szwarc, consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).
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Para cada litro de etanol produzido, em média doze litros de vinhaça são deixados como subproduto. Na tentativa de aproveitar este resíduo, o trabalho do grupo em Pernambuco utiliza um processo de biodigestão do conteúdo orgânico da vinhaça. A digestão por bactérias resulta em um biogás com 80% de metano, gás com grande potencial energético.
“Utilizamos o conhecimento adquirido em 33 anos de tratamento de efluentes e aplicamos os conceitos de biodigestão para desenvolver tecnologia específica e, deste modo, apresentar a vinhaça como uma excelente alternativa para produção de energia limpa no País,” afirma a gerente da área de bioenergia da Cetrel, Suzana Domingues.
“Para termos a dimensão desse potencial, na safra 2010/2011 foram produzidos 25 bilhões de litros de etanol, o que corresponde à geração de cerca de 300 bilhões de litros de vinhaça ou 300 milhões de m3. Este volume seria suficiente para gerar cerca de 1.600 MW, aproximadamente 45% da capacidade instalada de uma hidrelétrica como a de Jirau, com a vantagem de produzir energia de forma descentralizada e sem impacto para o meio ambiente,” explica Suzana.
Projeto
Segundo técnicos da Cetrel, o projeto ocupa cerca de 6000 m2 e pode ser ampliado. Na fase inicial, a unidade utiliza cerca de 20% da capacidade de geração de energia a partir da vinhaça, ou aproximadamente mil metros cúbicos (1 mil m3) de vinhaça/dia com capacidade de geração de até 0,85 MW de biogás em seus motogeradores. O resultado, nessa fase, são 612 MWh de energia comercializados no mercado livre por mês. Em escala industrial, a operação de Vitória de Santo Antão terá sua capacidade ampliada em até cinco vezes (cerca de 4,5 MW).
Para saber mais sobre o funcionamento do sistema da Cetrel, clique aqui.