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Estudos mostram melhorias no mercado de trabalho do setor sucroalcooleiro e desafios da mecanização

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28 de abril de 2008


A mecanização da colheita da cana, que vai ultrapassar os 50% do corte na safra 2008/09 no Estado de S. Paulo, traz para o setor a partir de agora uma discussão fundamental no âmbito do trabalho.


A afirmação foi feita pelo presidente da UNICA, Marcos Jank, durante evento realizado em Piracicaba nesta sexta-feira (25/04/08) para o lançamento do GEMT, o Grupo de Extensão em mercado de Trabalho Agrícola, pela ESALQ-USP.


Jank destacou que a mecanização traz impactos e é imprescindível que se tenham estudos e análises econômicas de qualidade na área do trabalho, para que a sociedade possa buscar alternativas.


Hoje, o setor emprega em São Paulo 180 mil pessoas para a colheita manual, processo que deve ser extinto até 2017 no Estado, em função do Protocolo Agroambiental assinado em 2007 entre usinas, plantadores e o governo estadual.


Nesse período, o setor deve gerar 70 mil empregos, que exigirão maiores níveis de escolaridade e qualificação do que o corte manual de cana. “Haverá um contingente sobressalente e precisamos discutir quais serão as alternativas para essa mão-de-obra”, frisou Jank.


O presidente da UNICA acredita que essa discussão será melhor conduzida se tiver como base dados concretos, dos quais se possam tirar conclusões efetivas. Daí, a importância do GEMT: “Estão sendo produzidos estudos que analisam renda, salários, migração, falecimentos e uma infinidade de temas que precisavam de clareza maior”.


O GEMT já finalizou quatro estudos específicos sobre o trabalho no setor sucroalcooleiro. Uma das análises realizadas refere-se às aposentadorias e falecimentos. Com base em dados relativos ao trabalho formal – no Estado de São Paulo, mais de 90% dos trabalhadores têm registro em carteira –, a equipe de pesquisadores constatou que no ano de 2005 houve oito mortes por acidente ou ligadas ao trajeto, o que representa 0,004% do total do contingente de 220.517 empregados do setor naquele ano.


“Não se pode dizer que o trabalhador da cana morre cedo ou morre por acidente”, disse a professora Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, coordenadora do Grupo GEMT. Segundo a análise, mais de 35% dos trabalhadores do setor morrem com idades entre 50 e 64 anos. Ela comparou o número de falecimentos da cana com os da agricultura em geral e a conclusão foi de que a participação dos falecimentos no setor sucroalcooleiro é menor.


Símbolo de status


Outro estudo já desenvolvido pelo GEMT analisou o movimento de migração de mão-de-obra, principalmente do Nordeste para São Paulo. A principal conclusão é de que os trabalhadores se mostram satisfeitos com o trabalho nas usinas, pois possuem carteira assinada, com acesso, portanto, ao seguro-desemprego, e porque podem ter acesso a bens, diante de um salário médio em geral acima de R$ 850,00.


Em uma das cidades estudadas, Pedra Branca (CE), cortar cana é sinônimo de status. Bens como motocicleta e antena parabólica são os mais procurados e aparecem como diferencial para os cortadores diante dos demais habitantes.


A migração espontânea ocorre por falta de emprego e outras alternativas de renda na cidade. “O sonho de cortar cana acabou prevalecendo sobre o sonho de estudar e ter uma formação”, apontou a pesquisadora. Portanto, o fim do corte manual é visto como “coisa negativa”. Do total de entrevistados, 17% nunca freqüentaram a escola, enquanto 50% estudaram apenas até a terceira série.


“Os dados dos estudos apontam para melhorias, mas ainda há um grande trabalho a ser desenvolvido em direção à qualificação dessa mão-de-obra, o que será extremamente importante daqui para frente”, concluiu o presidente da UNICA.


Clique nos estudos abaixo para fazer o download dos conteúdos originais:


Evolução da remuneração das pessoas empregadas na cana-de-açúcar e em outras lavouras, no Brasil e em São Paulo – Parte 1
Rodolfo Hoffmann & Fabíola C. R. de Oliveira

Evolução da remuneração das pessoas empregadas na cana-de-açúcar e em outras lavouras, no Brasil e em São Paulo– Parte 2 (final)
Rodolfo Hoffmann & Fabíola C. R. de Oliveira

Remuneração e características das pessoas ocupadas na agroindústria canavieira no Brasil, de 2002 a 2006 – Parte 1
Rodolfo Hoffmann & Fabíola C. R. de Oliveira

Remuneração e características das pessoas ocupadas na agroindústria canavieira no Brasil, de 2002 a 2006 – Parte 2 (final)
Rodolfo Hoffmann & Fabíola C. R. de Oliveira

Migração espontânea de trabalhadores no setor sucroalcooleiro – Parte 1
Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes & Margarida Garcia de Figueiredo

Migração espontânea de trabalhadores no setor sucroalcooleiro – Parte 2 (final)
Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes & Margarida Garcia de Figueiredo

Indicadores de Mortalidade e de Aposentadorias – Parte 1
Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes & Andrea R. Ferro

Indicadores de Mortalidade e de Aposentadorias – Parte 2 (final)
Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes & Andrea R. Ferro