O diário britânico de negócios Financial Times, um dos mais respeitados do mundo entre líderes políticos e empresariais, publicou na edição desta terça-feira (27/05/2008) carta enviada aos editores do jornal pelo presidente da UNICA, Marcos Jank, em resposta à matéria “Poor practices taint Brazil’s ethanol industry”, publicada na última quarta-feira (21/05/2008).
Citando projetos e iniciativas sócio-ambientais desenvolvidas pelo setor sucroalcooleiro, em alguns casos há vários anos, a carta rebate cada uma das acusações feitas pelo jornal, principalmente as relativas a práticas trabalhistas aplicadas no campo, lembrando que os trabalhadores do setor sucro-alcooleiro recebem o maior salário médio da agricultura brasileira para trabalho não-mecanizado.
Na opinião do diretor-executivo da UNICA, Eduardo Leão de Sousa, a pronta resposta ilustra o compromisso e o esforço da entidade em esclarecer fatos distorcidos e promover a divulgação transparente, no Brasil e no mundo, dos benefícios do etanol feito de cana-de-açúcar. A seguir, a íntegra da carta, traduzida para o português. “Trata-se de uma resposta contundente aos diversos pontos abordados pelo jornal em relação aos produtores de açúcar e álcool do Brasil”, comentou Leão.
Abaixo a íntegra da carta do presidente da UNICA, em português:
"O progresso do setor de etanol do Brasil"
Do Sr. Marcos Jank
Senhores, as piores práticas no mercado de biocombustíveis são as tarifas impostas ao etanol pela União Européia e pelos Estados Unidos (“Poor pratices taint Brazil’s ethanol industry”, publicada em 21 de maio) que reduz o acesso ao etanol feito de cana-de-açúcar, que – de acordo com o próprio artigo publicado pelos senhores – é considerado um dos biocombustíveis mais eficazes em termos de redução de gases de efeito estufa.
A vasta maioria das indústrias de cana-de-açúcar do Brasil produz biocombustíveis sustentáveis – e por sustentáveis queremos dizer que as condições de trabalho são parte de nossas preocupações. Nossa realidade tem pouca semelhança com o que a sua reportagem descreve, já que esforços significativos – mencionados por cima pelos senhores – têm produzido resultados em nosso setor há alguns anos.
Ao contrário, os senhores escolheram dar um retrato de algo que data, pelo menos, de três décadas atrás, focando em casos isolados de um setor que emprega mais de um milhão de pessoas e tem progredido muito além do que a matéria tenta descrever como sendo uma regra geral.
Para constar, nosso setor é um defensor declarado dos critérios de sustentabilidade propostos pela Comissão Européia, como um meio efetivo de assegurar que os biocombustíveis promovam ganhos para o meio ambiente. E trabalhamos duro para assegurar a sustentabilidade de nossos produtos. No ano passado, a UNICA firmou o Protocolo Verde com o Estado de São Paulo, onde é cultivada mais de 60% da cana-de-açúcar para etanol do Brasil. Parte deste acordo determina a aceleração do processo de mecanização, com um adiantamento de sete anos em relação ao prazo estabelecido pelo governo federal. Devido ao avanço da mecanização, os restos da cana-de-açúcar utilizada na produção de etanol servirão de matéria-prima para criar eletricidade renovável. Em 2015, 15% das necessidades do Brasil serão atingidas pela eletricidade gerada pelos restos da cana.
Claro que enquanto a mecanização promove benefícios ambientais, também reduz as necessidades de mão-de-obra, assim como ocorre em qualquer setor que se move do trabalho braçal para o automatizado. Como um setor responsável, assinamos um protocolo com a Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp) e montamos uma área de responsabilidade sócio-ambiental com o apoio do World Bank Institute.
Estas iniciativas voluntárias já estão ajudando a reter e encontrar emprego para milhares de trabalhadores atingidos pelo processo de mecanização. Isto é o contrário do que a sua reportagem indica, já que os trabalhadores do setor sucroalcooleiro têm a maior média de salários dos trabalhadores braçais na agricultura brasileira, o equivalente ao dobro da média do que recebem os demais. Ao todo, 96% dos trabalhadores da cana-de-açúcar têm registro na Carteira de Trabalho e recebem benefícios sociais e de saúde.
Como a Europa discute hoje os méritos dos bons e maus biocombustíveis, nós esperamos que estes e muitos outros assuntos – freqüentemente deixados de lado – sejam considerados de modo equilibrado, com argumentos baseados em fatos concretos e não em primeiras impressões superficiais.
Marcos Jank
Presidente da UNICA
Confira abaixo o recorte do jornal
com o texto publicado