Com as fronteiras abertas para o comércio do etanol nos dois países, Brasil e Estados Unidos possuem enorme potencial para aumentar a cooperação técnico-científica em energias renováveis e tornar o etanol um combustível mais competitivo no mercado internacional. A avaliação foi feita pelo presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), Marcos Jank, que participou na quarta-feira (29/02) do Comitê Estratégico de Energia da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), em São Paulo (SP).
“Brasil e EUA concentram mais de 80% da produção mundial de etanol, portanto o desafio hoje é fazer com que estes dois países, juntos, tomem a dianteira na construção de um mercado global de biocombustíveis, principalmente com o desenvolvimento de novas tecnologias, como o etanol de 2ª geração” ressaltou o executivo da UNICA. No encontro, promovido mensalmente pelo Comitê de Energia da Amcham, Jank e o gerente de Inovação em Serviços e Sustentabilidade da empresa Ecofrotas, Rodrigo Somogyi, foram convidados para discutir as perspectivas para o mercado de etanol no Brasil e no exterior.
Falando a uma plateia com diversos representantes de entidades do agronegócio, além de empresários dos dois países, Jank mostrou que para conquistar novos mercados, os produtores brasileiros e o governo deverão trabalhar em sintonia nos próximos oito anos. Na iniciativa privada, será preciso investir em infraestrutura, desde plantas industriais a sistemas de distribuição do combustível, algo que deverá demandar R$ 150 milhões em recursos. Isso dará ao Brasil condições de dobrar a produção de cana dos atuais 555 milhões de toneladas para 1,2 bilhão de toneladas até 2020, segundo estimativas da UNICA.
Na esfera governamental, Brasília terá a missão de criar medidas tributárias que não tirem a competitividade do etanol perante a gasolina. A desoneração do etanol, a exemplo do que já foi feito para a gasolina nos últimos anos, e a unificação em todo o País das alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrados sobre o etanol, são exemplos dessas medidas.
Mercado americano
Atualmente, o etanol é usado como aditivo em 35 países, principalmente no continente americano e europeu. Na maioria desses países, mandatos para utilização de energias renováveis asseguram boas perspectivas para os biocombustíveis. Nos EUA, a Renewable Fuel Standard (RFS), lei que define o mandato para o uso de biocombustíveis no país, determina que até 2022 os americanos deverão consumir 136 bilhões de litros anuais de combustíveis renováveis.
O etanol brasileiro pode conquistar uma fatia importante do mercado americano, já que do total projetado para consumo no futuro, 79 bilhões de litros terão que ser preenchios pelos chamados “biocombustíveis avançados,” ou seja, aqueles capazes de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa (GEEs) em pelo menos 50% em comparação à gasolina. Segundo classificação da Agência de Proteção Ambiental americana (Environmental Protection Agency, ou EPA), o etanol brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar, reduz em até 90% as emissões causadas pelo combustível de origem fóssil.
Para Marcos Jank, um grande passo para estreitar relações com os EUA no campo dos biocombustíveis foi dado no final de 2011, após luta de mais de 30 anos do setor sucroenergético brasileiro. Na oportunidade, o Congresso americano permitiu que expirassem os elevados subsídios para a indústria doméstica de etanol, de US$ 0,45 por galão de etanol misturado à gasolina, e a tarifa de US$ 0,54 imposta a cada galão (3,78 litros) de etanol importado. “Os dois países impunham tarifas altas no passado. O Brasil eliminou a sua em 2010 e vinha cobrando que os EUA trilhassem o mesmo caminho. Agora, o Congresso americano finalmente suprimiu a tarifa,” destacou.
Outras fronteiras
Além de EUA e Brasil, as expectativas de maior utilização de biocombustíveis na Europa também são positivas. Em todos os estados membros da União Europeia (UE), a Diretiva Européia sobre Energias Renováveis (RED) estabelece a utilização, a partir de 2020, de 20% de energias alternativas em sua matriz energética. A metade desta cifra, 10%, deverá ser cumprida pelo setor de transportes.
Outro mercado em potencial está na Ásia, onde a frota automotiva cresce a cada ano, acompanhada pela necessidade de se diminuir as emissões de poluentes no continente. Para Jank, “a Ásia é o futuro em termos de volume, debate climático e saúde pública.”