O Departamento de Energia (DOE) dos Estados Unidos, correspondente americano do Ministério das Minas e Energia, publicou um documento que aponta o que considerou fragilidades de dois estudos sobre biocombustíveis publicados na semana passada pela Science Express, versão para internet da conceituada revista Science. O DOE afirma que os textos dão um retrato desequilibrado sobre os biocombustíveis.
Na avaliação do DOE, os estudos publicados na Science Express trazem interpretações confusas sobre o uso da terra e o impacto do fortalecimento da economia agrícola na redução da urbanização. Além disso, são conflitantes entre si, já que um se refere ao etanol de celulose e o outro se opõe a isto, aceitando apenas a produção de etanol a partir do lixo.
O primeiro estudo (“Land Clearing and the Biofuel Carbon Debt” ou “Desmatamento de Terra e o Débito de Carbono do Biocombustível”), que condena a produção agrícola voltada à produção de biocombustíveis argumentando que provoca um débito de carbono de 17 a 420 vezes a quantidade de gases de efeito estufa que economiza por ano, foi produzido com base em princípios exagerados que não correspondem à realidade da agricultura, de acordo com as autoridades americanas.
Levantamentos realizados nos EUA mostram que as chamadas áreas de preservação não serão utilizadas por nenhum outro tipo de cultura. “Um estudo feito em parceria entre o DOE e o Laboratório Nacional de Oak Ridge revela que não é necessária a utilização de terras dedicadas ao cultivo de alimentos para atingir as metas do novo Padrão de Combustíveis Renováveis, como determinado pela Lei de Independência e Segurança Energética sancionada em 2007”, afirma o documento do DOE.
A análise dos estudos revela que enquanto muitas teses são falhas, poucos pontos são irrefutáveis, como, por exemplo, o fato de ser absolutamente necessário compreender que não faz sentido o desmatamento de florestas tropicais ou de outras áreas ricas em carbono para acomodar culturas voltadas à produção de biocombustíveis. “E isso deve ser entendido tanto nos Estados Unidos como em outros países, não apenas no caso dos biocombustíveis, mas para qualquer outra atividade”, documentou o Departamento de Energia. Outro fato correto apresentado no estudo segundo o DOE é a redução de pelo menos 50% na emissão de gases de efeito estufa por biocombustíveis avançados.
O outro texto publicado pela Science Express (“Use of U.S. Croplands for Biofuels Increases Greenhouse Gases through Emissions from Land Use Change” ou “Uso de Terras para Plantio de Grãos nos EUA para Biocombustíveis Aumenta os Gases de Efeito Estufa por Emissões com a Mudança de Uso de Terra?) também apresentou falhas graves segundo o órgão governamental americano. O referido estudo afirma que a produção de biocombustíveis nos Estados Unidos, seja a partir do milho ou do capim, provocará o mau uso da terra em diversas localidades como conseqüência do aumento nos preços das commodities agrícolas, e com isso viria um aumento na emissão de gases de efeito estufa. O documento também afirma que os benefícios quanto à emissão de gases de efeito estufa não ocorrerão nos primeiros 167 anos de produção de etanol de milho.
O governo americano rechaçou também este documento, apontando uma série de erros e teses consideradas irreais ou desatualizadas. O estudo do Department of Energy foi feito por meio de contribuições das seguintes entidades: Escritório do Programa de Biomassa (Office of Biomass Program), Laboratório Nacional Argonne, Laboratório Nacional de Energias Renováveis, Laboratório Nacional de Oak Ridge, Laboratório Nacional Noroeste do Pacífico e o United States Department of Agriculture (equivalente ao Ministério da Agricultura).