Pelo menos três fatores têm contribuído para o contínuo aumento da oferta e da competitividade do negócio da cana-de-açúcar no Brasil: significativos ganhos de produtividade em função de novas tecnologias com aprimoramento do manejo agrícola; um processo acelerado de profissionalização e fusões, que tem permitido ganhos de escala na atividade; e disponibilidade de terras, principalmente de pastagens degradadas, sobre as quais tem ocorrido a expansão da cana-de-açúcar. A avaliação é do diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Eduardo Leão de Sousa, para quem “estes são os pilares que vem sustentando a oferta crescente como resposta ao aumento da demanda por um combustível renovável no mercado brasileiro e internacional nos últimos anos.”
Sousa participou nesta terça-feira (10/08) do 11º Encontro Internacional de Energia, promovido pela Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp). O evento, que teve como tema “São Paulo: o futuro da energia começa aqui,” reuniu autoridades do governo federal, empresários, investidores e fornecedores de energia em discussões sobe a situação atual e o planejamento energético para fontes fósseis e renováveis no futuro.
Produtividade
Em sua palestra, Sousa avaliou que nos últimos vinte anos, graças ao desenvolvimento de técnicas agrícolas avançadas, o etanol brasileiro tem apresentado uma produtividade crescente em termos de litros por hectare de cana plantada. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que na década de 1990 produziam-se 4,7 mil litros do combustível renovável por hectare (ha), contra mais de 7 mil litros por hectare hoje.
“Segundo o Ministério de Minas e Energia, somente em função dos ganhos de produtividade da cana desde o início do Programa Nacional de Álcool (Proálcool), em 1975, foi possível preservar 7,5 milhões de hectares plantados, quase a totalidade da área atual plantada com cana no País,” avaliou o diretor da UNICA.
Consolidação
Sousa alertou que o cenário otimista em relação ao crescimento do mercado doméstico de produtos derivados da cana-de-açúcar vem atraindo a atenção de empresas de diversos setores, como tradings e petrolíferas. Segundo ele, importantes movimentos de consolidação tem se intensificado por meio de diversas transações ocorridas nos últimos meses. São os casos da joint venture do Grupo Cosan com a petrolífera anglo-holandesa Royal Dutch Shell e a aquisição do Grupo Moema pela multinacional Bunge.
De acordo com levantamento da UNICA, em 2004 os cinco maiores grupos do País eram responsáveis por 12% da produção nacional de cana, participação que cresceu para 27% na safra passada. Em 2007, o capital estrangeiro controlava 7% de toda a cana processada no Brasil. Após o primeiro semestre de 2010, esse percentual chegou a 22%.
Em abril deste ano, a Petrobras, cujo interesse em projetos na área de energias renováveis resultou na criação da Petrobras Biocombustíveis, anunciou a participação societária de 45,7% na Açúcar Guarani, a quarta maior processadora de cana do País.
Mercado externo
Durante o encontro promovido pela Fiesp, o diretor da UNICA também falou de alguns desafios do setor sucroenergético, como a necessidade de investimentos em infraestrutura de transportes, como os alcooldutos, que deverão reduzir custos e aumentar a competitividade do etanol brasileiro para a atender um mercado internacional crescente. Para o executivo, o Brasil, que viveu dois grandes movimentos de expansão em sua produção canavieira nos anos 1970 e 2003, tem a partir de agora um novo desafio, que é “o início do processo de internacionalização do etanol.”
Sousa explicou que o primeiro passo para o crescimento da indústria da cana foi dado com o Proálcool, quando o governo decidiu apoiar uma maior participação de fontes renováveis na matriz energética do País e substituir a forte dependência do petróleo importado.
Carros Flex
Outro avanço relevante ocorreu em 2003, quando a produção de etanol avançou em resposta ‘a introdução de veículos bi-combustível, o que permitiu ao consumidor escolher livremente entre etanol e gasolina na hora de abastecer. Atualmente, 11 montadoras oferecem mais de 80 modelos bicombustíveis, que já respondem por 42% da frota brasileira de veículos comerciais leves.
Agora, de acordo com Eduardo Sousa, com outros países incentivando a utilização de combustíveis renováveis, “a continuidade desta expansão na produção canavieira nacional está obrigatoriamente em curso.” Segundo ele, hoje o etanol tem grande potencial de expansão nos mercados externos, mas ainda é preciso vencer alguns desafios.
“Temos que trabalhar especificamente na questão das barreiras tarifárias e não-tarifárias, que tem dificultado o processo de internacionalização do produto, principalmente nos Estados Unidos e em países europeus. Uma maior abertura destes mercados deverá induzir também à produção de etanol nos mais de 100 países que já produzem cana-de-açúcar, localizados principalmente nas regiões tropicais do planeta,” concluiu o executivo.