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Jank: sustentabilidade do etanol deve ser exigida da cana, mas também das outras matérias-primas

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20 de novembro de 2008


O presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Marcos Jank, cobrou das autoridades internacionais o mesmo nível de exigência de sustentabilidade das outras matérias-primas para produção de etanol, assim como tem sido feito com a cana-de-açúcar. Jank fez o comentário durante a sessão plenária “Biocombustíveis e Mercado Internacional: regras comerciais, questões técnicas e padrões sócio-ambientais”, da Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, nesta quarta-feira (19/11/2008) em São Paulo.



Segundo Jank, nunca durante os mais de 150 anos de uso do petróleo se falou tanto sobre questões socioambientais como se tem discutido nos últimos dois anos em relação ao bioetanol. “Os biocombustíveis devem ser entendidos como uma grande oportunidade e não uma ameaça”, disse Jank, destacando que atualmente há dois problemas globais: a escassez de petróleo e o aquecimento global, para os quais têm sido discutidas soluções apenas em termos nacionais pelos países.



Para o presidente da UNICA, os países da Europa, os Estados Unidos e o Japão não abrem seus mercados para o etanol: “Os EUA querem se fechar exclusivamente para a produção interna de etanol, sem deixar os outros países participarem da comercialização deste produto em seu mercado, que é o maior do mundo”, afirmou.



Jank defendeu ainda o zoneamento do plantio de cana-de-açúcar, a certificação equilibrada nos pilares social, ambiental e econômico, e os avanços quanto às melhores práticas trabalhistas. “Em um setor que emprega mais de 750 mil trabalhadores, logicamente há problemas, mas são exceções”, declarou. “Na média, a cana é o segundo melhor salário do agronegócio brasileiro”, informou o presidente da UNICA, destacando que a produção de etanol de cana emprega muito mais trabalhadores do que o setor de petróleo.



Debate amplo



O mediador da sessão foi o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que abriu o debate ressaltando a importância da geração de energias renováveis. “A agroenergia representa uma possibilidade de mudança significativa da matriz energética global, capaz de ampliar as condições de paz e a democracia em todo o mundo”, afirmou Rodrigues.



Outro panelista, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério das Minas e Energia, Maurício Tolmasquin, criticou as dificuldades que têm sido impostas pela União Européia ao livre comércio de etanol: “As restrições das diretivas européias podem se tornar uma armadilha ecológica” comentou, acrescentando que tais restrições contribuem pouco para que haja uma conquista concreta de alternativas energéticas adequadas.



Representando os trabalhadores, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Manoel José dos Santos, afirmou que “existe a necessidade da participação direta dos trabalhadores nesses debates”. Segundo Santos, as relações comerciais dos biocombustíveis são prejudicadas pela alta taxação nos países desenvolvidos.



“Não existe mercado livre para o etanol no mundo”, declarou Santos, cobrando a participação de representantes de trabalhadores de outros países produtores. Ele também pediu melhoras nas condições de trabalho no setor, e cobrou providências para que cortadores de cana que perdem seus empregos devido ao avanço da mecanização sejam requalificados.



A relatora da sessão foi a indiana Lakshmi Puri, vice-secretária geral da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Outros debatedores presentes foram a americana Charlotte Opal, representante da Roundtable on Sustainable Biofuels (RSB) com sede na Suíça, o diretor-geral do ministério do meio-ambiente da Itália, Conrado Clini e Nick Goodall, presidente da Agência Britânica de Combustíveis Renováveis.





Foto: Newton Santos