undefinedAs relações comerciais entre Brasil e Moçambique devem se estreitar ainda mais em função da decisão do país africano de adotar a misturas obrigatórias de etanol na gasolina a partir de 2012, marcando o início de um novo “Proálcool.” A novidade que se aproxima foi o principal foco de uma delegação do governo moçambicano, que visitou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), em São Paulo, na sexta-feira (21/10). Na bagagem dos visitantes, além de questionamentos sobre o setor sucroenergético brasileiro, ideias para intensificar parcerias e a troca de conhecimento e tecnologia entre os dois países.
Durante a visita foi ratificado o “Memorando de Entendimento na Área de Biocombustíveis”, firmado entre Brasil e Moçambique em 2007. Segundo Antônio Saíde, diretor de Energias Novas e Renováveis do Ministério de Energia de Moçambique e chefe da comitiva, trocas de governos nos dois países retardaram o início da parceria.
“Mudanças de gestão e outros trâmites burocráticos fizeram com que o entendimento fosse atrasado, mas agora, em vias da obrigatoriedade da mistura E10 na gasolina e do E3 no diesel, é preciso retomar o contato e firmar a parceria, atrelando a ela cooperação entre os governos e negócios com o setor privado,” destacou Saíde.
O grupo foi recebido pelo diretor executivo da UNICA, Eduardo Leão de Sousa, que conduziu uma apresentação sobre o setor sucroenergético brasileiro destacando a atual conjuntura do mercado doméstico, o desenvolvimento de programas de biocombustíveis no mundo e as práticas sustentáveis adotadas no Brasil para a produção de etanol.
Sousa também abordou mecanismos para o aprimoramento de práticas sustentáveis, citando como exemplo os projetos já em vigor no Brasil, como o Protocolo Agroambiental do Estado de São Paulo.
“Moçambique possui forte aptidão agrícola, especialmente para a produção de biocombustíveis. Tem condições agroclimáticas muito parecidas com as nossas, além de apresentar grande disponibilidade de terras aráveis, quase 30 milhões de hectares. Sua localização geográfica privilegiada deverá ajudar também na exportação do combustível para a Ásia e a Europa,” destacou o diretor da UNICA. Para Sousa, o governo do país africano percebeu que o etanol pode ser uma importante alavanca de desenvolvimento econômico para áreas rurais.
Para estimular o crescimento da indústria de cana-de-açúcar local, a delegação moçambicana sugeriu que a UNICA apoiasse o intercâmbio com o setor privado brasileiro para o estreitamento de negócios e investimentos. A entidade colocou-se à disposição das autoridades. Também participaram do encontro executivos do Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e da Dedini, que apresentaram novidades do setor de indústrias de máquinas e equipamentos para usinas. Todos os participantes concordaram em realizar, em 2012, um seminário na capital moçambicana, Maputo, para aprofundar a cooperação entre os dois países.
E10 e E3 em 2012
Com a introdução das misturas obrigatórias de 10% de etanol na gasolina e 3% de biodiesel ao diesel, parte dos dois biocombustíveis começará a ser produzida em Moçambique. O biodiesel será fabricado a partir do pinhão manso, planta nativa na região e utilizada dessa forma em diversas partes do mundo. O etanol será produzido a partir da cana-de-açúcar, assim como no Brasil.
Moçambique já conta com quatro usinas de processamento de cana-de-açúcar em funcionamento, com sua produção voltada prioritariamente para o açúcar. Entretanto, segundo Saíde, incentivos concedidos pelo governo logo devem permitir que estas mesmas usinas passem a produzir também o etanol, tanto para o consumo interno quanto para exportação.
Com as misturas obrigatórias, o governo espera reduzir as quantidades de gasolina e diesel importados e poupar, só no primeiro ano da implementação da lei, cerca de US$ 22 milhões. A importação de combustíveis fósseis atualmente consome cerca de US$ 500 milhões anuais.