A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), em conjunto com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), demais sindicatos e associações de produtores de etanol e açúcar da região Centro-Sul, anunciou hoje sua estimativa para a safra 2011/2012 de cana-de-açúcar. A projeção aponta para uma moagem de 568,50 milhões de toneladas, crescimento de 2,11% em relação ao total processado na última safra, que foi de 556,74 milhões de toneladas.
Os dados levantados pela UNICA, bem como o mapeamento com imagens de satélite da região Centro-Sul feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CANASAT – INPE), indicam uma pequena expansão na área de cana-de-açúcar disponível para colheita. Este incremento de área para moagem deve ocorrer principalmente nas unidades novas e em usinas que iniciaram suas atividades nos últimos anos, com destaque para aquelas localizadas nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
Na avaliação da UNICA, esse crescimento de área para colheita não deve se traduzir em aumento significativo da quantidade de cana a ser processada, devido à menor produtividade agrícola do canavial (mensurada em toneladas de cana por hectare), especialmente nas unidades tradicionais.
Na última safra (2010/2011), a quebra agrícola, decorrente do longo período de estiagem observado em toda a região produtora de cana-de-açúcar, foi especialmente severa. Para a nova safra começando agora (2011/2012), esse fenômeno não deverá ocorrer e a expectativa é de que a produtividade por estágio de corte fique próxima de valores históricos, superiores aos observados na safra anterior.
Apesar dessa recuperação da produtividade agrícola por estágio de corte, espera-se que a produtividade média da área total de cana-de-açúcar na safra 2011/2012 diminua relativamente à observada no último ano, devido aos seguintes fatores:
• Envelhecimento do canavial – o canavial disponível para colheita nas áreas tradicionais está mais velho em função dos baixos índices de renovação observados nos últimos anos – a idade média do canavial foi de 3,7 anos na safra 2010/2011, contra 4,0 anos previstos para a nova safra;
• Redução no volume de cana bisada – a cana bisada (aquela que permanece no campo por mais de uma safra e, por isso, geralmente apresenta uma produtividade agrícola maior), representou 14% da área colhida nas unidades tradicionais no último ano. Para este ano, tal área deverá ser mínima, respondendo por menos de 3% da área total;
• Menor produtividade no início de safra – a produtividade do canavial colhido no início de cada safra é fortemente dependente do clima observado no ano anterior. Portanto, a expectativa é de queda na produtividade da cana neste início de safra em razão das condições climáticas desfavoráveis para o desenvolvimento da planta registradas de abril a agosto de 2010;
Segundo o Diretor Técnico da UNICA, Antonio de Padua Rodrigues, o desequilíbrio do perfil do canavial está mais acentuado nesta safra: “Uma lavoura estabilizada é composta por 60% de cana nova e mais produtiva e por 40% de cana envelhecida, acima de quatro cortes. Para a safra 2011/2012, esse cenário está invertido e o impacto negativo desse envelhecimento do canavial sobre a produtividade da lavoura é expressivo. O setor precisará investir fortemente na renovação do canavial ao longo deste ano, para garantir o crescimento da oferta a partir da safra 2012/2013”.
Qualidade da matéria-prima
O período prolongado de seca que prejudicou a produtividade agrícola do canavial na última safra, também promoveu uma maior concentração de açúcares na cana colhida em 2010/2011. Para este ano, as previsões meteorológicas disponíveis indicam que o fenômeno La Niña persistirá, embora mostre sinais de enfraquecimento. Ainda segundo estas previsões, a chuva ao longo da safra deverá permanecer próxima da média histórica.
Com a expectativa climática de um inverno não atípico, espera-se uma menor concentração de açúcares na cana durante a primeira metade da nova safra, seguida por uma provável recuperação na segunda metade devido à colheita da planta em idade fisiológica adequada. No último terço da safra 2010/2011, parte significativa do canavial foi colhido com menos de 12 meses de desenvolvimento, com maturação comprometida.
Além desse aspecto, o aumento da colheita mecanizada também se configura como um fator que deve reduzir a quantidade de produto obtido por tonelada de cana processada na safra 2011/2012. Isso porque a colheita com máquinas eleva a quantidade de impurezas vegetais trazidas à indústria, prejudicando a eficiência industrial.
Por outro lado, na safra que se inicia deverá haver uma maior concentração da colheita nos meses em que o ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) é mais elevado, já que o volume de cana disponível para o início e término de safra deverá ser menor que aquele observado em 2010. Esse aspecto eleva o ATR médio da safra. A menor quantidade de cana bisada a ser colhida na safra 2011/2012 também contribui para o aumento do teor de sacarose na cana.
Dessa forma, o balanço de todos os fatores indica que a quantidade de ATR por tonelada de cana-de-açúcar deverá atingir 140,80 kg, queda de 0,29% em relação ao valor de 141,21 kg por tonelada de cana processada registrado na safra 2010/2011
Novas unidades produtoras
Na avaliação da UNICA, apenas cinco novas unidades iniciarão suas atividades na safra 2011/2012. É um número significativamente inferior ao observado nos últimos anos, reflexo da desaceleração no crescimento do setor sucroenergético após a crise global de crédito em 2008 e 2009. Foram 25 novas usinas na safra 2007/2008, 30 em 2008/2009, 19 em 2009/2010 e 10 unidades produtoras na última safra.
As novas unidades esperadas para 2010/2011 estão localizadas nos Estados do Mato Grosso do Sul (3), Goiás (1) e São Paulo (1).
Produção de açúcar e de etanol
Do total de cana-de-açúcar projetado para a safra 2011/2012, a UNICA estima que 45,34% será destinado à produção de açúcar, leve acréscimo em relação aos 44,71% observados no último ano. Assim, a exemplo dos anos anteriores, a maior parte da cana colhida nesta safra (54,66%) continuará sendo utilizada para a produção de etanol.
A produção de açúcar projetada é de 34,58 milhões de toneladas, crescimento de 3,25% em relação as 33,49 milhões de toneladas produzidas na safra 2010/2011. Para atingir essa produção projetada, as unidades aptas à produção de açúcar deverão operar próximo da capacidade máxima instalada, na medida em que a moagem de cana por essas unidades deverá ser praticamente a mesma do último ano. O incremento de moagem previsto para a nova safra decorre do aumento do volume de cana processada pelas unidades que só produzem etanol.
A produção de etanol, por sua vez, deverá atingir 25,51 bilhões de litros, aumento de 0,52% em relação à produção da última safra, que totalizou 25,37 bilhões de litros.
Dos 25,51 bilhões de litros de etanol que deverão ser produzidos, 17,21 bilhões serão de etanol hidratado e 8,30 bilhões de etanol anidro. Esse volume de etanol anidro é suficiente para atender à mistura de 25% do produto na gasolina, mesmo considerando uma menor parcela da frota flex utilizando etanol hidratado em função da consequente migração para o consumo de gasolina.
Mercado de açúcar e de etanol
As exportações brasileiras de açúcar devem apresentar índice de crescimento inferior ao esperado para a produção. Enquanto o crescimento na produção de açúcar deverá atingir 1,09 milhão de toneladas, as exportações podem avançar apenas 0,60 milhão de toneladas, atingindo o total de 24,90 milhões de toneladas exportadas na próxima safra.
Ao contrário do que ocorre no mercado de açúcar, as exportações de etanol devem apresentar uma retração significativa na safra 2011/2012, chegando a 1,45 bilhão de litros – queda superior a 18% em relação à safra 2010/2011.
O aumento da produção e a retração nas exportações de etanol irão resultar em um incremento de quase 500 milhões de litros na oferta do produto ao mercado doméstico. Porém, para o Diretor Técnico da UNICA, “esse incremento de oferta de etanol para o mercado doméstico é inferior ao crescimento esperado na demanda em função das vendas aceleradas de carros flex.” Para Rodrigues, o cenário é de déficit estrutural na oferta de cana, sendo preciso criar incentivos para que ocorra um novo ciclo de investimentos na produção.
Confira dadfos da safra no UnicaData.
SOBRE OS DADOS DA SAFRA
Os dados divulgados nesta atualização de safra são compilados e analisados pela UNICA, com números fornecidos pelos seguintes sindicatos e associações de produtores da Região Centro-Sul:
ALCOPAR- Associação dos Produtores de Bioenergia no Estado do Paraná
BIOSUL – Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul
SIAMIG – Sindicato da Indúistria de Fabricação do Etanol no Estado de Minas Gerais
SIFAEG – Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás
SINDAAF – Sindicato Fluminense dos Produtores de Açúcar e Etanol
SINDALCOOL – Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso
SUDES – Sociedade das Usinas e Destilarias do Espírito Santo