O acordo que reuniu diversas das principais empresas do setor sucroenergético nacional, a Petrobras e a Camargo Correa em torno de um projeto unificado de etanolduto, mostra o pensamento estratégico e a maturidade dos participantes, na opinião da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).
Para o presidente da entidade, Marcos Jank, que participou da inauguração do novo sistema de transporte de etanol nesta terça-feira (23.11) em Ribeirão Preto (SP) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, todos os envolvidos entenderam que a união de forças levará à viabilidade do projeto, algo mais distante de todos se fossem construidos dutos separados e concorrentes, como previsto anteriormente.
“O projeto chega em um momento importante, pois servirá de estímulo para uma nova e necessária rodada de investimentos na expansão da produção. Será também um demonstração de que estamos prontos não só para agilizar o atendimento ao mercado doméstico como para um crescimento nas exportações, que pode resultar das atuais discussões envolvendo tarifas e barreiras não-tarifárias impostas pelos principais mercados consumidores do mundo, a Europa e os Estados Unidos,” comentou Jank.
Em discurso durante a cerimônia, o presidente da UNICA destacou os avanços do setor sucroenergético registrados desde o início do primeiro mandato do presidente Lula, em 2003. “Em oito anos, a safra de cana dobrou, de 320 milhões de toneladas anuais para os atuais 630 milhões de toneladas. A produção de açúcar cresceu 70%, passando de 23 pars 38 milhões de toneladas anuais, e a de etanol mais que dobrou, de 13 para 28 bilhões de litros por ano,” detalhou.
Entre outros avanços, Jank citou a revolução do carro flex, que hoje responde por 90% das vendas de carros novos no país; a importância crescente do Brasil no contexto global e da busca por soluções energéticas de baixo carbono, entre as quais o etanol aparece como opção cada vez mais reconhecida mundialmente; e diversos ganhos em termos de logística, com o uso crescente de ferrovias, terminais de transbordo, armazens e portos, contexto em que se encaixa o próprio etanolduto.
Jank aproveitou para agradecer o presidente Lula por seu empenho pessoal, que contribuiu de forma decisiva para a crescente internacionalizaçào do etanol, que virou peça central tanto da política comercial quanto da política externa do país: “A UNICA acompanhou esse empenho com seus próprios avanços e iniciativas, tornando-se a entidade brasileira com a maior presença no exterior, com escritórios em Washington e Bruxelas e ações constantes em defesa de nossos interesses.”
O presidente da UNICA chamou a atenção para a discussão aquecida que vem ocorrendo no Congresso dos Estados Unidos em torno da renovação dos pesados subsídios e da tarifa sobre o etanol importado, que beneficiam fortemente a produção doméstica e tiram a competitividade do etanol brasileiro naquele mercado. “Em 30 anos de história de renovações automáticas, nunca se esteve tão perto da possibilidade da quebra ou pelo menos da redução desse protecionismo.”
Jank encerrou conclamando o presidente Lula a se empenhar junto ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama nas últimas semanas de atividade do legislativo americano, para evitar que a tarifa seja novamente renovada. “Se a renovação acontecer mais uma vez, a consequência será sem dúvida uma nova ida do Brasil à Organização Mundial do Comércio,” afirmou Jank.
União pelo Etanolduto
Avaliado em US$5 bilhões, o etanolduto terá 850 quilômetros de extensão e passará por 45 municípios, levando o etanol das principais regiões canavieiras do Centro-Sul até Paulínia, e de lá para os portos de São Sebastião (SP) e do Rio de Janeiro. Pelo setor sucroenergético, participam do projeto Copersucar, Cosan, Odebrecht, que controla a ETH Bioenergia, e a Uniduto, que tem entre suas acionistas São Martinho, Santa Cruz, São João e Bunge.
As obras serão executadas pela PMCC, empresa controlada pela Petrobras e pela empreiteira Camargo Correa. O primeiro trecho da obra, com 202 quilômetros, vai unir Ribeirão Preto a Paulinia, com planos de expansão futura para os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Segundo a Petrobrás, a maior parte do etanolduto vai utilizar áreas de passagem de dutos já existentes, como forma de reduzir o impacto sócio-ambiental da obra.
Quando concluido, o projeto terá capacidade instalada de transporte de até 21 milhões de metros cúbicos de etanol por ano. Especialistas estimam em 57% a redução nos custos de logística que o projeto vai produzir, gerando um aumento significativo na competitividade do etanol brasileiro, tanto no mercado doméstico quanto no internacional.