Políticas públicas claras, estáveis, que incentivem a competitividade do etanol hidratado devem ser metas do Brasil a curto e médio prazo, para manter o bem sucedido programa de biocombustíveis originado com o carro flex. Foi esta a principal mensagem do presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Marcos Jank, durante apresentação na segunda-feira (15/08), segundo dia da 1ª Conferência Brasileira de Ciência e Tecnologia em Bioenergia (1st Brazilian BioEnergy Science and Technology Conference – BBEST), em Campos do Jordão (SP).
“O sucesso do programa de biocombustíveis no Brasil depende de uma política clara e transparente para o etanol hidratado, e não somente para o anidro que é misturado à gasolina. Sem que o empresário enxergue no futuro uma rentabilidade para o seu investimento, estaremos fadados a ter uma produção de hidratado sempre inferior à demanda,” disse Jank em sua palestra, cujo tema foi uma visão local e global da indústria de biocombustíveis.
A BBEST, que terminou nesta quinta-feira (18/08), mostrou números expressivos e uma qualificada discussão relacionada à ciência e tecnologia, com a presença de representantes de 163 organizações, 233 pesquisadores e 218 estudantes de todos os continentes. Mais de 100 representantes de empresas e perto de 600 exibidores também participaram do evento, entre eles o Projeto AGORA, iniciativa multisetorial que reúne 11 entidades, entre elas a UNICA, e oito empresas da cadeia produtiva da cana.
Para Luiz Fernando do Amaral, gerente de Sustentabilidade da UNICA, que acompanhou parte do evento, o nível dos debates surpreendeu pela qualidade. “É gratificante vir a um encontro como este e perceber que há um salutar despertar acadêmico e empresarial para questões ligadas aos biocombustíveis no País,” afirmou.
Produção X Consumo
Em sua apresentação, Jank lembrou que na safra 2011/2012 o Brasil deve moer o equivalente a 510 milhões de toneladas de cana e produzir 12,865 milhões de litros de etanol hidratado, 28,4% menos do que o produzido na safra anterior (17,971 milhões de litros). “Como a frota de veículos flex é crescente, seria necessário aumentar a oferta de hidratado, o que não ocorre em função de uma série de fatores,” explicou.
Para reverter esta relação de vendas crescentes de carros flex e produção estagnada ou até refratária do etanol que abastece esses veículos, Jank elencou uma série de medidas que precisariam ser adotadas a médio e longo prazo no País:
• Incentivos à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) que objetivem aumento de produtividade e eficiência de produção nos canaviais, levando consequentemente a um menor custo de produção.
• Revisão da política tributária incidente sobre os combustíveis, particularmente o etanol.
• Utilização da CIDE (Contribuição sobre Intervenção do Domínio Econômico) como um instrumento que regule e garanta a competitividade dos biocombustíveis em relação à gasolina.
• Incentivos para expansão e uso da bioeletricidade com o uso do bagaço da cana, por meio de ações pontuais de regulação que favorece o uso de energias renováveis.
• Aumento da chamada eficiência energética dos carros flex quando comparados à gasolina. Hoje, em média, um litro de etanol equivale a 70% do consumo médio da mesma quantidade de gasolina nos motores flex. Há indicações de que é possível melhorar esta eficiência com tecnologia já disponível.
“São todas medidas que exigem um esforço não só do setor sucroenergético, mas também do Governo Federal para avançarmos além do que já conquistamos,” concluiu Jank.