Um grupo de pesquisadores e cientistas apresentou um conjunto de novas visões sobre os benefícios do etanol de cana-de-açúcar para a mitigação do aquecimento global, em evento paralelo realizado durante a Conferência do Clima, das Nações Unidas, na Polônia (clique aqui e saiba mais sobre a COP 14). Os argumentos apresentados por especialistas do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa foram compilados no livro “Sugarcane ethanol: contributions to climate change mitigation and the environment” – publicado pela Wageningen University, da Holanda – e discutidos por três dos autores que participam do livro, em painel organizado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) no dia 11 de dezembro de 2008, em Poznan, com mediação do diretor-executivo da entidade, Eduardo Leão de Sousa.
Especificamente sobre a contribuição do etanol de cana para a redução da emissão dos gases de efeito estufa, o pesquisador-visitante da Nipe/Unicamp e um dos autores do livro, Isaias Macedo, apresentou suas mais recentes contribuições, como a atualização dos dados sobre as emissões do etanol brasileiro e projeções para o ano 2020. “A ciência neste assunto não é nova no Brasil”, afirmou Macedo, complementando que devido ao debate intenso estimulado pela expansão do etanol, a sustentabilidade tem sido cuidadosamente avaliada no País. “O primeiro estudo sobre o impacto do etanol de cana na redução do efeito estufa data de 15 anos atrás”, ressaltou.
Macedo fez questão de frisar que a contribuição de todos os produtos da cana deve ser computada neste cálculo, incluindo a co-geração de eletricidade que atende tanto às necessidades das usinas como serve para exportação de excedentes à rede elétrica brasileira. A diretiva européia que promove o uso de energias renováveis exclui a parte da bioeletricidade destinada ao uso externo às usinas, reduzindo o valor de emissões economizado pelo etanol de cana. “Colocando a bioeletricidade no cálculo, como um todo, o etanol de cana atinge 92% de redução na emissão de gases de efeito estufa, em comparação com a gasolina”, informou.
O professor Peter Zuurbier, pesquisador da Wageningen University e co-editor da publicação, juntamente com o seu colega Jos van de Vooren, também da universidade holandesa, demonstrou que há terra disponível e suficiente para a produção tanto de alimentos como de cana para etanol no Brasil e no mundo. “Não há nenhuma relação entre a crise de alimentos verificada neste ano (com elevação de preços) e a produção de etanol de cana-de-açúcar”, afirmou Zuurbier.
Outro assunto abordado foi o fato de a expansão da produção de etanol não impactar negativamente no uso da terra no Brasil, fato argumentado cientificamente pelo gerente-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), Rodrigo Lima, cuja contribuição também foi compilada na publicação da universidade holandesa. Com base nos resultados do estudo, que analisou o modelo de expansão da cana-de-açúcar na região Centro-Sul nos últimos cinco anos e um cenário desse crescimento até 2018, o representante do Icone concluiu que a expansão não ocorre e não ocorrerá em biomas sensíveis, como a floresta amazônica.
“Apesar da área ocupada por cana estar em crescimento, a expansão está ocorrendo em áreas de pastagens e de agricultura, sem efeito direto sobre a floresta”, afirmou Lima , que utilizou dados do IBGE e imagens de satélite, fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, para embasar a sua análise. Segundo ele, as pastagens representavam 200 milhões de hectares no Brasil, mas estão decrescendo devido ao aumento da produtividade das criações de gado em espaços menores. Lima destacou ainda que o zoneamento agroecológico da cana, previsto para ser definido pelo governo em 2009, irá estabelecer a política para a expansão da cana.
Questionado sobre o impacto no uso da terra caso as barreiras tarifárias ao etanol sejam retiradas, Lima garantiu que nenhuma conseqüência negativa será verificada no País por três motivos principais: uma vasta quantidade de terras disponível, o zoneamento agroecológico e porque para iniciar qualquer projeto de produção são necessários pelo menos três anos de estudos de impacto socioambiental para obter o licenciamento.
Segundo Sousa, representante da UNICA e coordenador do encontro, o debate foi positivo para enriquecer a compreensão sobre os efeitos do etanol para o aquecimento global e mostrar que o etanol pode e deve ser produzido de modo sustentável econômico, sócio e ambientalmente. “Longe de ser a solução para a mudança do clima por si só, o etanol deverá ser parte expressiva da solução deste problema”, destacou Sousa, que lembrou ainda que “o setor de transporte sozinho é responsável por mais de 20% de todas as emissões globais de gases que causam o efeito estufa e mudança do clima”.
O evento foi organizado pela UNICA dentro do escopo do projeto Apex-Brasil/UNICA, iniciado em janeiro deste ano, parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O objetivo do projeto Apex-Brasil/UNICA é promover a imagem do etanol brasileiro de cana-de-açúcar como energia limpa e renovável ao redor do mundo.
Clique aqui para baixar o livro “Sugarcane ethanol: contributions to climate change mitigation and the environment”, publicado pela Wageningen University.