Investimentos em cogeração no setor sucroenergético nacional poderiam ser estimulados com a adoção de uma política setorial de longo prazo para a bioeletricidade. A avaliação foi feita pelo gerente em Bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Zilmar de Souza, após a compra pela CPFL Renováveis de 100% dos ativos de cogeração da usina Ester, associada da UNICA no município de Cosmópolis (SP). A transação foi anunciada no dia 09/03.
“A continuidade deste tipo de operação entre a indústria canavieira e empresas do setor elétrico pode gerar investimentos significativos para a bioeletricidade. No entanto, sem uma definição governamental do papel desta fonte na matriz de energia elétrica do Brasil, abre-se espaço para o gás natural, por exemplo, cuja origem não é renovável como o bagaço de cana, concentrando a contratação de energia em poucas fontes de geração,” aponta Souza.
De acordo com o especialista da UNICA, atualmente existem mais de 300 usinas de processamento de cana que podem ser reformadas, passando pelo chamado “retrofit” para aumentar a eficiência do processo de transformação do bagaço em eletricidade. Com isso, as empresas passariam a exportar excedentes de energia para a rede elétrica nacional.
A UNICA estima um potencial de geração de bioeletricidade no País que pode chegar aos 15,3 mil Megawatts médios (MW médios) até 2020, mais do que a energia gerada por três usinas hidroelétricas do porte de Belo Monte. Apesar disso, a bioeletricidade só tem utilizado pouco mais de 1.000 MW médios, ou seja, 6,5% de seu potencial. Em 2008, o setor sucroenergético chegou a comercializar 600 MW médios, mas de 2009 a 2011, sem política setorial definida, o total comercializado anualmente pela bioeletricidade em leilões promovidos pelo Governo ficou, em média, em 90 MW médios.
CPFL no setor
Para adquirir os ativos de cogeração da Ester, a CPFL Renováveis desembolsou R$ 111,5 milhões. De acordo com a empresa, a negociação com a Ester prevê ainda investimentos para aumentar a eficiência da produção e cogeração da usina, aumentando o volume de energia exportável de 11 MW médios em 2012 para até 16,3 MW médios em 2016.
Somada a outras três usinas em operação comercial, a aquisição dos ativos da Ester eleva o portfólio da CPFL Renováveis para 175 MW de potência a partir de biomassa da cana. Segundo a empresa, ainda estão em fase de construção mais quatro plantas com capacidade instalada de 195 MW e entrada em operação prevista para o final de 2013.