O governo da Índia vai incentivar a produção de etanol de cana-de-açúcar como forma de ajudar os produtores de cana do país a complementarem sua renda quando os preços do açúcar estiverem baixos. Segundo o ministro da Agricultura do país, Sharad Pawar, a medida, anunciada no início de maio, também visa estimular o próprio cultivo da cana-de-açúcar.
Para o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Eduardo Leão de Sousa, ao contrário do que ocorre no Brasil o cultivo de cana na Índia é muito volátil, devido à predominância no país da agricultura de pequena escala. Enquanto no Brasil existem 70 mil fornecedores de cana, na Índia eles são mais de trinta milhões.
“Com essa estrutura, quando os preços do açúcar estão desestimulantes, os produtores agrícolas indianos têm maior flexibilidade para migrar para outras culturas, como milho ou feijão, e vice-versa. Ao produzirem etanol além do açúcar, os agricultores e industriais terão um ‘colchão’ financeiro e não precisarão substituir seus canaviais,” explica Sousa.
O executivo da UNICA acredita que um aumento na produção de etanol na Índia poderá ajudar a reduzir a instabilidade das cotações do açúcar no mercado internacional, permitindo maior previsibilidade para os dois produtos. “Quando a Índia ‘inunda’ o mercado com uma produção excedente de açúcar, o preço do produto sofre depreciação, prejudicando outros países produtores, como o Brasil,” acrescenta.
Commodity
Para Sousa, o incentivo do governo indiano também contribui para o processo de transformação do etanol em commodity global. “Diversos países têm buscado cada vez mais alternativas que reduzam a dependência dos combustíveis fósseis importados. Mas é razoável supor que os investimentos em programas de biocombustíveis desses países deverão ser mais ambiciosos na medida em que contarem com um número maior de países ofertando a commodity, o que implica também em menores riscos de mercado,” observa.
Segundo informações veiculadas pela agência internacional de notícias Bloomberg, nos últimos três anos o governo indiano concedeu empréstimos de US$ 67 milhões para as usinas de cana-de-açúcar do país aumentarem a capacidade anual de produção de etanol em mais 365 milhões de litros por ano. A capacidade atual do país é de cerca de 1,8 bilhões de litros.
Desde 2004, o governo indiano instituiu, em caráter voluntário, uma determinação para a mistura de 5% de etanol à gasolina em dez estados. O programa foi adotado para incentivar a agricultura, já que a Índia é um dos maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar, e também para reduzir a dependência do petróleo importado.