Existe um “ranço agrícola” que atrapalha a visão dos Estados Unidos sobre a questão do etanol e impede uma avaliação pragmática e objetiva sobre as vantagens mútuas de abrir aquele mercado para o etanol brasileiro de cana-de-açúcar. Esse foi um dos argumentos apresentados pelo presidente do conselho do Grupo Cosan e conselheiro da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Rubens Ometto Silveira Melo, durante a Cúpula Empresarial Brasil-Estados Unidos realizada em Brasília no sábado (19/03), primeiro dia da visita oficial ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Representando o setor sucroenergético brasileiro em um painel moderado pelo jornalista William Waack, da Rede Globo, Ometto afirmou que as vantagens da colaboração Brasil-Estados Unidos com respeito ao etanol são visíveis, mas não se concretizam de forma mais pronunciada devido à visão equivocada que permeia o tema: “O problema nos Estados Unidos é só político, existe porque tratam a questão como agrícola e não como assunto energético, que envolve um combustível. Com isso, acabam nem fazendo direito as contas que comprovam os ganhos que a abertura produziria de lado a lado.”
Respondendo a um comentário do CEO da Petrobras, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, de que a matriz energética mundial mudará pouco nos próximos 30 anos e continuará privilegiando o petróleo e o carvão, Ometto argumentou que a participação do etanol na matriz mundial vai crescer. “Nas duas maiores regiões consumidoras de gasolina do mundo, os Estados Unidos e a União Européia, se fôssemos acrescentar 25% de etanol como já ocorre no Brasil, precisaríamos de 25 milhões de hectares plantados com cana-de-açúcar. Isso poderia ser resolvido aqui mesmo no Brasil, que tem abundância de terras disponíveis, sem qualquer prejuízo para a produção de alimentos,” explicou.
Gabrielli concordou que no caso dos transportes, a demanda por etanol deve crescer, fomentada também por avanços no desenvolvimento do etanol celulósico, tema que a própria Petrobras vem perseguindo com pesquisas em parceria com empresas dos Estados Unidos. O executivo da Petrobras também concordou que a questão do acesso ao mercado americano para o etanol brasileiro não pode perdurar: “Isso não é sustentável a longo prazo e se for mantido por muito mais tempo, certamente será às custas da eficiência,” completou.
Ometto lembrou que a Cosan também está envolvida na busca pelo etanol celulósico comercialmente viável através da Iogen, empresa canadense que tem participação acionária da Raízen, a nova empresa que resultou da joint-venture entre a Cosan e a Shell confirmada recentemente. O presidente do conselho da Cosan emendou com uma expectativa positiva quanto ao acesso futuro ao mercado dos Estados Unidos.
“Não dá para entender como se mantém o etanol brasileiro taxado e prejudicado por subsídios ao produtor doméstico dos Estados Unidos, enquanto o petróleo circula livremente. Essa é uma equação que precisa ser enfrentada, pois a injustiça do que se vê hoje é bastante clara,” concluiu.
Além de Ometto e do CEO da Petrobras, também participaram do painel o CEO da Westinghouse, Aris Candris e o CEO para a América Latina da General Electric, Reinaldo Garcia. A Cúpula Empresarial Brasil-Estados Unidos foi organizada pela Confederação Nacional da Indústria, o Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos e a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, a Amcham. O evento terminou com um discurso do presidente dos EUA, Barack Obama.