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Tecnologia do CTC para recolher palha de cana

28 de fevereiro de 2011

Um novo método sendo desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) para fazer o chamado enfardamento da palha de cana-de-açúcar, um resíduo volumoso da colheita mecanizada ainda pouco utilizado pelas usinas, terá grande importância para a bioeletricidade e o desenvolvimento do etanol celulósico, de segunda geração. A avaliação é do consultor de emissões e tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc.

“A retirada de uma parte da palha que normalmente é deixada no campo, sem dúvida, pode ser útil futuramente para a produção de etanol celulósico, mas acredito que antes disso o principal destino dessa palha será a produção de energia elétrica, deixando o bagaço como matéria-prima primordial para a produção de etanol celulósico,” afirma Szwarc.

A metodologia para enfardamento em estudo pelo CTC, em Piracicaba (SP), permite recolher grandes quantidades de palha em pontos distantes com eficiência e mobilidade. Os fardos, que pesam em média de 450 a 500 quilos, podem ser utilizados para geração de bioeletricidade ou, no futuro, para produzir etanol celulósico. Além da palha e do bagaço de cana, o combustível também pode ser fabricado a partir de restos orgânicos como sobras de comida e lascas de madeira.

Energia adormecida nos canaviais

“Estima-se que somente a bioeletricidade sucroenergética – produzida com o bagaço e a palha da cana-de-açúcar – tenha potencial para gerar excedentes de mais de 13 mil MW médios anuais até a safra 2020/21, ou quase três vezes a garantia física atribuída à usina Belo Monte, sendo a palha responsável por quase 50% desse potencial,” comenta o assessor para bioeletricidade da UNICA, Zilmar de Souza.

Segundo analistas, países como os Estados Unidos, Japão e alguns países europeus, que não tem terras livres para ampliar o cultivo de plantas que produzem restos que servem como matéria-prima para a produção do etanol celulósico, tem muito a ganhar com o desenvolvimento da nova tecnologia de enfardamento. No caso do Brasil, a disponibilidade de terras e de grandes quantidades de matéria prima como folhas, bagaço ou palha a baixo custo deixam o país em situação vantajosa.

De acordo com Szwarc, com a tecnologia de primeira geração utilizada atualmente, o País produz em média sete mil litros de etanol por hectare (ha) de cana. Com tecnologias de produção de etanol celulósico consolidades, o uso do bagaço e da palha pode elevar a produtividade por hectare para até 14 mil litros.

Cenário atual

Por enquanto, o trabalho do CTC não objetiva desenvolver tecnologia para produzir etanol celulósico a partir da palha. “Em um primeiro momento o mais factível é utilizar a palha para ser queimada nas caldeiras, deixando o bagaço prioritariamente para a fabricação do etanol celulósico,” explica Marcelo de Almeida Pierossi, especialista em tecnologia agrícola da Coordenadoria de Engenharia Agrícola do CTC.

Para ele, o grande diferencial do enfardamento é o econômico: “O maior benefício desta técnica é poder recolher de forma economicamente viável a palha hoje disponível nos canaviais,” afirma.

José Guilherme Perticarrari, coordenador de pesquisa tecnológica em Engenharia Agrícola do CTC, complementa: “Atualmente os fardos são utilizados por poucas usinas e a energia produzida é de aproximadamente 0,8 a 0,9 MWh por tonelada de palha.”

Parceria comercial

O desenvolvimento do maquinário para enfardamento é resultado de uma parceria do CTC com a multinacional New Holland, fabricante de implementos com foco nas áreas agrícola, industrial e de construção civil que pertence ao Grupo FIAT. “Como esta tecnologia de recolhimento de palha já está muito avançada, principalmente na Europa e EUA, para outros tipos de biomassa que não a palha da cana, o CTC foi buscar um parceiro que dominasse esta tecnologia, mas que não tinha know how em cana de açúcar,” afirma Perticarrari.

A partir da parceria, três tipos de equipamentos agrícolas estão em desenvolvimento:

• Aleirador, cuja função é produzir uma leira de palha para aumento do rendimento da enfardadora;
• Enfardadora, que recolhe a palha no chão e produz fardos retangulares através de mecanismos de compressão do material;
• Carreta recolhedora de fardos, que empilha conjuntos de 12 fardos. Ao completar a carga, os fardos são deixados fora do campo, nos carregadores, para a coleta por caminhões.

Por enquanto, os equipamentos possuem especificações desenvolvidas para países de clima temperado. No entanto, após a conclusão do projeto CTC-New Holland, todas as adaptações necessárias serão incorporadas ao maquinário. “Caberá ao CTC desenvolver sistemas de transporte e processamento dos fardos na usina de forma a reduzir os custos de operação em todas as etapas da cadeia,” afirmam Perticarrari e Pierossi.

Recolhimento da palha

Pierossi e Perticarrari destacam que apenas uma parte da palha de cana deixada no solo será recolhida. “A questão da quantidade a ser recolhida e qual a parte desta palha deverá ser deixada no campo, devido aos benefícios agronômicos para a conservação do solo, faz parte dos estudos feitos pelo CTC. São muitas as variáveis que influenciam este mix, já temos isto muito bem equacionado,” afirmam os responsáveis pelo estudo.

Para eles, a quantidade de palha a ser recolhida deve variar de acordo com o local: “Nossos estudos mostram que a quantidade de palha recolhida deve ser dimensionada de acordo com as condições de clima, temperatura e relevo de cada região,” conclui Pierossi.

Para Alfred Szwarc, a técnica em desenvolvimento pelo CTC é muito bem-vinda: “Tem sido um desafio encontrar uma tecnologia economicamente viável para recolher a palha do campo. Este novo maquinário ajudaria também a reduzir o problema de incêndios espontâneos ou causados, já que o excesso de palha no campo também aumenta essa possibilidade.”