A decisão do governo alemão de aumentar a proporção de etanol misturado à gasolina, dos atuais 5% (E5) para 10% (E10), é uma medida que deveria servir como exemplo para outros países membros da União Européia, desde que a medida não leve a restrições que mantenham fora do mercado alemão o etanol de cana-de-açúcar eficiente e produzido de forma sustentável. Para a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), estes são os pontos positivos e potencialmente negativos da proposta, aprovada em 27 de outubro no país.
“O etanol de cana brasileiro, que reduz a emissão de gases de efeito estufa mais do que qualquer outro biocombustível disponível atualmente, pode desempenhar um importante papel para ajudar a Alemanha a atingir suas metas ambientais, melhorando também a segurança energética do país,” afirmou o representante-chefe da UNICA para a União Européia, Emmanuel Desplechin.
De acordo com nota divulgada pelo Ministério alemão do Meio Ambiente , 90% da frota de veículos movidos a gasolina na Alemanha é compatível com o uso do E10. No entanto, o governo recomenda que os motoristas verifiquem a compatibilidade de seus veículos com a mistura de 10% de etanol antes de abastecer com o combustível. A verificação pode ser feita diretamente com os fabricantes, em oficinas mecânicas ou por meio de uma lista dos modelos que podem usar etanol na mistura, que será publicada pelo governo alemão.
Cenário comercial
“Em relação ao comércio, a introdução do E10 em um grande país consumidor como a Alemanha poderia certamente criar importantes oportunidades para os produtores brasileiros de etanol de cana. No entanto, restrições comerciais como elevadas barreiras tarifárias impostas ao etanol importado na Europa, ou a falta de clareza quanto aos critérios de sustentabilidade exigidos a partir de janeiro de 2011, continuarão a restringir o acesso dos consumidores ao mais eficiente dos biocombustíveis nos aspectos econômico e ambiental,” disse Desplechin.
Os postos de abastecimento da Alemanha continuarão a vender combustível com apenas 5% de etanol na mistura (E5) para os veículos mais antigos que, de acordo com o governo alemão, não são compatíveis com a mistura de 10% de etanol.
A proposta de introdução do E10 no país deve entrar em vigor em janeiro de 2011, mas ainda precisa da aprovação da Câmara Alta alemã. A medida foi aprovada logo após recente visita ao Brasil do vice-Ministro dos Transportes da Alemanha, Rainier Bomba. Na ocasião, o ministro afirmou que o etanol deve ser parte de uma relação comercial bilateral ampliada entre Alemanha e Brasil.
Diretiva Européia
A decisão do governo alemão faz parte dos esforços para reduzir a emissão de CO2 no setor de transportes da Alemanha e ao mesmo tempo diminuir a dependência por combustíveis fósseis, conforme estabelecido na chamada “Diretiva Européia de Energias Renováveis.” A Diretiva impõe aos estados membros da União Européia (UE) a utilização, até 2020, de 20% de energias renováveis em sua matriz energética. A legislação também determina a quota de 10% de energias renováveis que deve ser atingida no setor de transportes e a expectativa é que a maior parte desta cifra seja cumprida com o uso de biocombustíveis.