A UNICA distribuiu nota nesta terça-feira (29/07/2008) lamentando o fracasso dos nove dias de discussões e negociações da Rodada Doha, em Genebra, na Suíça. “A UNICA lamenta profundamente a chance perdida de integrar, ao menos parcialmente, o etanol no sistema mundial de comércio, mesmo que o combustível fosse considerado ´produto sensível´, como solicitado pela União Européia”, afirmou o presidente da entidade, Marcos Jank.
Diz o texto que, antes do início das negociações em Genebra, o setor sucroalcooleiro brasileiro já visualizava um acesso muito limitado para o açúcar. Esperava-se, no entanto, algum progresso envolvendo o etanol, dentro da idéia de que este biocombustível não pode enfrentar tantos obstáculos para ser comercializado mundialmente, enquanto seu principal concorrente, o petróleo, flui livremente e sem barreiras.
Com o fracasso das negociações no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio), a UNICA afirma que vai perseguir alternativas que permitam enfrentar os subsídios que distorcem o comércio internacional do etanol. Os esforços da entidade serão focados especificamente nos países e regiões do mundo que adotam tais práticas.
O presidente da UNICA acompanhou pessoalmente as negociações em Genebra, desde sábado. Para ele, o mundo será outro daqui em diante: “É praticamente impossível retomar a rodada antes das eleições presidenciais americanas e quando houver a retomada, talvez em um ou dois anos, boa parte dos negociadores que conduziram as discussões já poderão ter sido substituídos”.
Velocidade menor que a do mundo
Jank acredita que o sentimento é de que a Rodada não está conseguindo acompanhar a velocidade do mundo. “Muitos que acompanham o processo já falam em dez anos e é difícil imaginar que num mundo em que a velocidade das decisões às vezes é de poucos segundos, se possa levar dez anos para resolver assuntos pendentes há cinco ou seis décadas. Fico imaginando se haverá clima para retomar conversas utilizando metodologias ultrapassadas e pouco operacionais como essa da OMC”, completou o presidente da UNICA.
Para Jank, “um detalhe importante, porém, menor do acordo agrícola, algo que seria aplicado apenas ocasionalmente por países em desenvolvimento quando houvesse queda de preço ou aumento no volume exportado dentro de certas condições, causou o colapso total das discussões”.
Ele acrescentou que a chegada dos países emergentes ao centro da mesa da OMC, antes vista como um “clube de países ricos”, mostra que é difícil lidar com a própria heterogeneidade que existe entre eles. “Desta vez, a questão foi de acesso a países em desenvolvimento, algo que afeta inclusive os interesses ofensivos brasileiros, já que os grandes mercados do futuro, tanto os ofertantes como os demandantes, são os países em desenvolvimento. Desta vez, curiosamente, não se pode afirmar que a União Européia é a culpada pelo fracasso agrícola”.
Para o presidente da UNICA, o que se conclui é que infelizmente as regras do jogo, ainda tão frágeis no caso da agricultura, não irão avançar, e dessa forma a OMC não se fortalece como instituição global.