undefinedA questão das emissões ligadas aos Efeitos Indiretos do Uso da Terra (Indirect Land Use Changes – ILUC) não é exclusiva dos biocombustíveis e não pode ser tratada isoladamente da dinâmica mundial de agricultura e de fatores mais amplos que levam ao desmatamento. Esta foi a mensagem levada pelo representante-chefe da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) na União Européia, Emmanuel Desplechin, durante a Segunda Conferência Européia do Etanol Combustível (Second European Bioethanol Fuel Conference), que aconteceu em Bruxelas nos dias 15 e 16 de abril.
“Se o objetivo da UE é diminuir ou eliminar suas emissões de CO2, o ILUC deve ser considerado no âmbito global, e não somente em políticas específicas para biocombustíveis,” adicionou o representante da UNICA durante painel dedicado à implementação do ILUC na UE. Desplechin ressaltou que o limite de tempo imposto pela legislação européia não deve impedir que seja dada a devida atenção e consistência científica ao assunto, especialmente devido à complexidade do exercício em andamento para modelar o ILUC.
“Está na hora da Comissão Européia se envolver publicamente com especialistas e cientistas, também dos países em desenvolvimento, na revisão do modelo de trabalho, para assegurar a precisão de suposições e dados assim como a consistência científica, condições indispensáveis para qualquer consideração política,” declarou Desplechin.
Considerando o âmbito global
O representante da UNICA lembrou aos participantes da conferência que o debate sobre ILUC consiste em proteger habitats ricos em carbono, e que esta questão só pode ser resolvida por meio de políticas globais. Desplechin recomendou que os formadores de políticas públicas colaborem em nível global, para desenvolver e implementar políticas consistentes, que acabem com o desmatamento e protejam grandes áreas de estoque de carbono.
“Precisamos de um acordo multilateral sobre desmatamento e não de modelos de ILUC para biocombustíveis sem embasamento científico. Caso contrário, corremos o risco de eliminar uma solução válida para a redução das emissões no setor de transporte, enquanto ainda teremos a mesma quantidade de CO2 liberada na atmosfera por causa da contínua perda de habitats ricos em carbono,” enfatizou.
Desplechin ressaltou as iniciativas brasileiras na redução do desmatamento, graças a políticas ambiciosas e ao envolvimento da sociedade civil e do setor privado. “Esforços realizados em países como o Brasil, para reduzir significativamente o desmatamento, preservam e aumentam os habitats ricos em carbono e devem ser reconhecidos e gratificados,” concluiu.
Também participaram do debate o integrante da Direção Geral da Comissão Européia para Energia e Transporte, Paul Hodson; o membro do Parlamento Europeu Bas Eickhout; e o presidente da empresa inglesa de etanol Ensus, Alwyn Hughes.