Em meio a um debate aquecido e ganhando cada vez mais visibilidade nos Estados Unidos, um estudo divulgado na terça-feira (20/07) por um renomado economista agrícola do meio-oeste americano está desafiando conclusões catastróficas, geralmente disseminadas por grupos de lobby do etanol de milho, sobre o que poderia acontecer se a atual tarifa de US$0,54 por galão (3,78 litros) imposta ao etanol importado expirar no final deste ano como planejado. O estudo, realizado por Bruce Babcock, chefe do Centro de Agricultura e Desenvolvimento Rural (CARD em inglês) da Universidade do Estado de Iowa, apresenta um cenário bem diferente.
Em vez de altos índices de desemprego, queda da produção doméstica de biocombustíveis e maior dependência de fontes de energia estrangeiras, Babcock projeta que os motoristas e contribuintes americanos serão beneficiados se o Congresso simplesmente permitir que a tarifa sobre o etanol importado, assim como o crédito dado aos agentes que misturam etanol na gasolina, termine no dia 31 de dezembro de 2010. O documento de Babcock contesta diretamente os exageros do lobby do milho, segundo o representante-chefe da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) para a América do Norte, Joel Velasco.
Bruce Babcock, pesquisador da Universidade do Estado de Iowa“As conclusões de Babcock estão expondo as alegações que ouvimos com frequência dos apoiadores do etanol de milho, que argumentam que o corte do subsídio e da tarifa de etanol vai eliminar mais de 100 mil empregos, reduzir a produção de etanol americana em cerca de 40% ou algo como quatro bilhões de galões (15,12 bilhões de litros) e deixar os EUA dependentes de etanol estrangeiro,” afirmou Velasco.
Para o gerente de economia e análise setorial da UNICA, Luciano Rodrigues, que acompanhou o desenvolvimento do estudo americano, o artigo desmistifica uma série de aspectos relacionados às políticas públicas adotadas pelos Estados Unidos e, mais importante, mostra que o etanol de cana-de-açúcar pode ser utilizado de forma complementar ao etanol de milho. “Além dos benefícios ambientais já comprovados, o etanol de cana pode trazer vantagens econômicas aos consumidores americanos sem, contudo, comprometer o desenvolvimento da indústria de biocombustíveis daquele país.”
“Os resultados oferecem uma visão muito mais clara do que vai acontecer se os subsídios e proteções comerciais terminarem no final deste ano. Os números mostram que os consumidores ganham quando um produto ou uma indústria se vêem obrigados a competir em um mercado livre, pois a concorrência gera produtos de maior qualidade a preços mais baixos,” concluiu Velasco.
As principais conclusões do estudo de Babcock, intitulado “Costs and Benefits to Taxpayers, Consumers and Producers from U.S. Ethanol Policies,” (Custos e Benefícios da Política de Etanol dos Estados Unidos para Contribuintes, Consumidores e Produtores) são:
• A produção de etanol nos EUA aumentaria em cerca de 14,5 bilhões de galões (54,81 bilhões de litros) até 2014 mesmo sem subsídios e restrições comerciais à importação, enquanto as importações de etanol do Brasil cresceriam modestamente para cerca de 740 milhões de galões (2,7 milhões de litros) no mesmo ano, quando representariam menos de 5% do total do mercado de etanol americano;
• Sem subsídios e barreiras comerciais, mas com os mandatos de mistura de etanol à gasolina permanecendo em vigor, não mais do que 300 empregos seriam perdidos na indústria americana de etanol até 2014;
• A remoção do crédito e da tarifa reduziria o preço do etanol em até US$0,12 por galão em 2011 e US$0,34 por galão em 2014. Como toda gasolina vendida nos EUA contém 10% de etanol – nível que a Agência de Proteção Ambiental (EPA em inglês) pode aumentar para 15% ainda este ano – preços mais baixos para o biocombustível significariam modestas reduções também na gasolina. Os preços da gasolina cairiam em cerca de um ou dois centavos de dólar no próximo ano e de US$0,03 a US$0,05 por galão em 2014.
• O crédito induz as empresas que misturam etanol na gasolina, em geral distribuidoras de combustíveis, a usarem cerca de 900 milhões de galões de etanol (3.402 milhões de litros) por ano acima dos níveis obrigatórios. Com os subsídios chegando a US$6 bilhões anualmente, esta quantidade de etanol a mais acaba custando quase US$7 por galão (US$1,85 por litro).